Vantagens e desvantagens de morar fora

Outro dia li uma frase dita pelo Tom Jobim, se não me engano. Dizia mais ou menos assim “morar fora é bom, mas é uma merda. Morar no Brasil é uma merda, mas é bom”. De fato, ele não estava errado. Agora que já se passaram dois anos morando em Londres, eu  sinto que consigo ter uma visão mais realista da coisa ou seria cínica? Não sei, mas o que eu sei é que não importa qual o país que você foi morar, com o passar dos anos, você vai começar a enxergar de um outro jeito. Não que você vá se arrepender ou deixar de amar o país que escolheu viver. Nada disso. Mas não vai ser mais como antes. Antigamente, eu amava pegar o metrô, me sentia muito Londrina. Hoje em dia, eu acho um saco. Provalmente porque eu tô indo pro trabalho cheia de sono.

Óbvio que cada um tem uma experiência de vida como imigrante. Alguém que veio aos 18 anos fazer intercâmbio provavelmente vai dizer que é tudo maravilhoso enquanto uma pessoa que veio tentar a sorte e ser au pair, provavelmente vai ter um outro ponto de vista. Portanto, a lista que eu escrevo abaixo tem a ver com a MINHA experiência de vida em Londres (deixando claro porque cada país traz as suas peculiaridades).

Desvantagem

1 – Saudade da família

Pra mim, o maior perrengue de todos desde que me mudei pra Londres é a saudade que eu sinto da minha família. Principalmente da minha mãe e do meu pai, vô e vó. Meus amigos, meu cachorro…a lista é longa. Quando a gente tem a oportunidade de ver quando quer a gente até se irrita. Afinal, tinha combinado tal coisa e aí tem que cancelar porque tem aniversário de fulano e tem que ir todo mundo. Mas quando você mora fora, voce vê que ao longo dos anos, a saudade fica cada vez mais apertada. Principalmente em momentos difíceis quando você se vê sem colo de mãe. Esse ano, eu perdi o casamento de uma grande amiga e fui tia mais uma vez, mas até agora não pude ir ao Brasil e conhecer o Bernardo. E olha que eu vou ao Brasil todo ano! Mas é MUITO difícil. A minha sorte é o Facetime que eu uso todos os dias pra falar com os meus pais e o meu marido e a sua família (que eu vejo praticamente toda semana). Então, mata um pouco a saudade de família reunida.

2 –  Você vai perder contato com pessoas

Outra coisa que é muito difícil, mas acontece. No início, as pessoas ainda mandam mensagem, você ainda manda, mas depois de um tempo acaba que você perde contato simplesmente porque a vida tomou direções tão diferentes que fica meio difícil manter aquela rotina. Antes dava pra chamar pra uma cerveja e ficava tudo certo, agora tem que ser por Skype e não é a mesma coisa. Claro que isso não é regra, eu ainda tenho grandes amigos no Brasil com os quais mantenho contato, mas de um modo geral esteja preparado para perder laços no Brasil. A boa notícia é que você vai criar outros com pessoas daqui, o que me leva ao outro ponto.

3 – Fazer amizades

Não sei como é em outros países, mas na Inglaterra fazer amigos leva TEMPO e dedicação. Não é que nem no Brasil que no dia seguinte você já é chamado pro churrasco. Eu tenho bastante amigos ingleses por conta do meu marido que é Inglês, mas eu já ouvi comentários de outros amigos meus me perguntando COMO que eu casei e/ou virei amiga de Inglês. O povo é bem reservado mesmo de um modo geral. Você pode ir para o pub com eles várias vezes e ainda assim isso não quer dizer que vocês sejam amigos próximos (o que eu aprendi na prática #awkward). A impressão que eu tenho é que todo mundo tem o seu círculo de amizades já desde pequeno e sei lá o que você tem que fazer pra ser convidado. Mas, em compensação, eu criei o meu próprio círculo de amigos com americanos, poloneses, franceses, etc e o que me ajudou bastante foi o fato de eu ter feito mestrado e voluntariado. Mas não fique surpreso se você morar aqui por um tempo e sentir que não tem muitos amigos. O povo é difícil mesmo!

4 – O clima

SÓ. CHOVE. NESSA. BOSTA. Mentira, não chove sempre não, mas a fama não é à toa. Eita cidadezinha pra ser cinza! Não é fria igual a Alemanha, mas também não é quente igual a Portugal. É o ano inteiro aquele clima indeciso e sem sol e aí em Agosto faz duas semanas de calor e todo mundo passa mal porque ninguém sabe lidar com isso. Nem eu que sou do Rio sei lidar porque não existe ar condicionado nessa bodega. Mas depois de duas semanas volta a fazer frio de novo. Meu conselho? Toma vitamina D que resolve.

5  – Começar do zero

Acho que ser imigrante não é pra qualquer um. Não to falando de vir pra cá fazer intercâmbio porque isso qualquer um faz, tô falando de realmente largar tudo no Brasil e tentar construir vida e família num lugar completamente diferente. Quando eu concordei em me mudar pra cá eu já tinha vindo como turista – o que não se compara em NADA com a vida do imigrante. E sinceramente, olhando pra trás eu vejo que não tinha a menor idéia de nada. Provavelmente ainda não tenho. Mas acho válido vir com esses sonhos e esse sentimento de que aqui as coisas são melhores porque é isso que vai te dar coragem pra meter a cara.  Ainda que você venha com tudo certo como no meu caso, ainda assim é difícil ser imigrante porque você tem que ficar o tempo todo provando para os outros que você é tão capaz quanto. Eu não tive problemas com a adaptação com o clima, cultura ou a língua de um modo geral, mas eu tô bem cansada de ter que explicar que a UFF é uma excelente faculdade no Brasil, ter que explicar que o SESC onde trabalhei é uma empresa referência na área, ter que explicar que hoje em dia, eu tenho mais de 5 anos de experiência em produção pra gente que acha que meu job no museu é o meu primeiro emprego. É bem chato, principamente para uma pessoa orgulhosa como eu, mas é um desafio que eu me comprometi a vencer e estou lutando pra isso. Então minha gente, se você tá pensando em vir pra cá pra MORAR. Eu diria que, pelo menos no meu caso, o mais difícil vai ser você aceitar que aqui você vai ter que começar do ZERO. Seja networking, amizades ou emprego, você vai precisar de determinação e coragem se quiser ter alguma chance aqui.

Mas nem tudo é desvantagem! Aqui vão os cinco pontos positivos:

Vantagens

1 – Segurança

Sem dúvida alguma a coisa que mais amo aqui é poder ir e vir dos lugares sem ficar naquela paranóia do Rio de Janeiro, onde a gente tem o celular e o dinheiro do ladrão na bolsa. Óbvio que não é 100% seguro, nenhum lugar é. Algumas áreas são mais escuras e desertas – onde trabalho, por exemplo, é uma area que durante a semana é até tranquilo porque tem muitas empresas, mas nos fins de semana ou após expediente é bem deserto e já tive até uma amiga furtada voltando pra casa. Mas, de um modo geral, nem se compara ao Rio. Eu ando com meu celular, computador, anel de noivado, etc  e não tenho aquela sensação de que a qualquer momento alguém vai apontar a arma e pedir a minha bolsa. Deve ter gente pensando: Nossa! Andressa, você está sendo dramática! Pior que não, morei em 4 cantos do Rio e nos quatro eu não era nem louca de pegar ônibus tarde da noite ou andar em rua escura. Na Tijuca então era só rezando o Pai Nosso mesmo! haha

2 – Se reinventar

Assim como eu disse que uma das coisas mais difíceis de morar no exterior é ter que começar do zero, uma das maiores vantagens é justamente poder recomeçar. Quando eu vim pra cá, eu vim com o sonho de trabalhar em projetos sociais em museus, apesar de também gostar muito da área de curadoria. Consegui trabalhar na área relativamente rápido, mas ainda estou buscando fazer o que eu quero. No Brasil, provavelmente eu ainda estaria trabalhando com produção.

3 – Novas experiências

Eu sempre li muito desde criança e ficava fascinada com o quanto cada cultura é diferente. Odiava o fato de estar ali presa naquele apartamento quando havia um mundo inteiro lá fora. Bom, eu sinto que cheguei aonde eu queria chegar quando vejo todos os dias pessoas das mais diferentes nacionalidades no metrô, mercado, museu, etc. Quando eu posso comer qualquer tipo de comida seja vietnamita, indiana ou caribenha na rua da minha casa. Essa diversidade é o que mais encanta em Londres. Aqui você vai estar exposto à cultura de todo o mundo. Fora que dá pra viajar toda a Europa baratinho. Outro dia vimos passagens pra Itália e compramos como quem compra passagem Rio – SP. Me diz se tem coisa melhor?

4 – Cultura Inglesa

Eu sempre amei a cultura inglesa  (não tô falando do curso) e Londres sempre foi a cidade onde eu queria morar. Acho que isso tem muito a ver com o fato de crescer ouvindo tantas bandas britânicas (minhas bandas favoritas são New Order, The Smiths e Belle and Sebastian). Também lia muito Jane Austen, o que me deixou pensando que todo mundo era educado e ninguém falava alto, até eu chegar aqui e assistir EasterEnders e ficar chocada! hahaha

Enfim, eu era iludida? Com certeza. Mas, atira a primeira pedra aquele que mudou de país sem estar deslumbrado com o novo. Óbvio que hoje em dia eu não penso da mesma forma, mas eu ainda admiro muito a cultura deles e me sinto muitissimo à vontade aqui.

Inclusive, amo a comida que o Brasileiro tanto reclama e eu nunca nem entendi o por quê do estardalhaço. Aqui em casa domingo é dia de Sunday Roast, mas durante a semana também tem feijão com arroz. Então fica tudo certo.

5 – Respeito

Como mulher, eu me sinto muito mais respeitada aqui. Nunca ouvi piadinha. Na academia, sempre malho com os homens na área onde pegamos peso e ninguém fala nada, e não me lembro de ficar com receio de usar tal roupa à noite. Acho que não preciso dizer pela milésima vez que é óbvio que nem tudo são flores, mas baseado em minha experiência pessoal, eu diria que a minha confiança em fazer coisas sozinha e em andar sozinha aumentou bastante.

Enfim, escrevi este post porque no último ano, muitos conhecidos e amigos vieram para Europa, cada um com um objetivo de vida diferente. Acho que pelo fato de no Brasil as coisas não estarem boas, foi o empurrãozinho que a galera precisava pra tentar a sorte aqui na gringa. Eu espero de coração que dê tudo certo e que todos os sonhos de vocês se realizem, mas venham preparados porque como diriam lá no Rio de Janeiro “o bagulho é doido!”.

Diferenças no ambiente de trabalho

Desde que comecei a trabalhar aqui tenho notado uma diferença muito grande na forma como as pessoas se relacionam no dia a dia do escritório. No começo, achei que eu tinha dado sorte, mas após trabalhar e voluntariar em alguns museus em Londres, eu cheguei a conclusão que existem uma ou duas coisas muito simples, mas que fariam uma grande diferença no Brasil.

Aqui, existe uma prática muito comum de perguntar quem gostaria de chá ou café e se oferecer para fazer e levar na mesa de todos.  Pode ser o estagiário ou uma pessoa no cargo senior: eles oferecem pra fazer e até mesmo comprar o seu café. Pode não parecer nada demais, mas eu acredito que uma prática tão simples como a de se oferecer para fazer o chá para as pessoas que trabalham com você faça uma grande diferença. Outro dia, vi o diretor oferecendo bebida e servindo aos funcionários. Isso sempre me faz lembrar da minha época trabalhando com produção no Brasil e de presenciar situações onde claramente a pessoa numa posição maior se sente no direito de não colaborar com a equipe de um modo em geral.

Eu me sinto muito à vontade nas empresas onde trabalhei aqui porque me sinto respeitada pelo o que eu faço independente de ter um cargo senior ou não, independente de onde eu vim, do que eu faço nas horas vagas. Cada um cuida da sua vida e todo mundo faz o seu trabalho. No Brasil, sentia que as pessoas só te respeitavam se você estivesse engravatado ou fosse alguém com sobrenome ou cep da Zona Sul. Amo muito o meu país, mas em termos de ambiente de trabalho, acho que temos muito o que aprender, não dói nada colaborar e trabalhar em equipe, muito pelo contrário, ajuda a construir um espaço de trabalho onde todos se sentem valorizados. Fica a dica.