Women’s march London 2017

No último sábado, eu e meu marido participamos da Marcha das Mulheres em Londres. Acho que não preciso descrever aqui o evento, pois durante todo o dia e ao longo do fim de semana toda a mídia estava voltada para as milhares de pessoas que foram às ruas manifestar não só a indignação com o agora presidente Trump e sua misoginia, mas também a insatisfação com outros setores como por exemplo, a situação do refugiados e da comunidade LGBT. No evento do Face estavam esperando cerca de 40 mil pessoas (pelo menos na última vez que chequei), mas segundo os jornais britânicos haviam mais de 100 mil pessoas na Trafalgar Square!

Eu não fiquei por muito tempo porque estava me recuperando de uma gripe e fazia uma frio de lascar. Mas valeu a pena enfrentar o frio e fazer parte desse momento sem dúvida histórico!

Reflexões sobre como é ser mulher em Londres

Antes de tudo, como eu sei que o tribunal da Internet está só esperando um post mais polêmico para caçar minha recém adquirida carteirinha de blogueira, queria deixar claro que esse post é baseado exclusivamente na minha experiência pessoal. Tenho plena consciência que esta pode não ser a realidade de todo mundo e que existem diversos fatores para tal. Porém, decidi que valeria a pena escrever sobre esse assunto como essa sempre foi uma curiosidade minha quando morava no Brasil. Um país que na minha opinião – e da maioria das pessoas que eu conheço – ainda é extremamente machista. Dito isto, vamos às opiniões (que ninguém pediu, mas vou escrever assim mesmo).

Sobre vestir o que quiser quando quiser

A primeira coisa que eu percebi logo de cara é uma liberdade a qual eu nunca tive acesso no Rio de Janeiro, cidade onde nasci e morei a vida inteira. Eu lembro que eu costumava receber cantada e ouvir piadinha quase todo santo dia no caminho para o trabalho, não importava o que eu estivesse vestindo ou como eu estivesse me sentindo. Não sei vocês, mas eu sempre odiei receber cantada na rua e lembro que quando eu frequentava a academia, eu tomava o cuidado de só trocar de roupa dentro do vestiário, porque eu sabia que se ousasse aparecer na rua de legging justa ou com um short curto, era certo que eu ouviria 34324 comentários ofensivos ao longo do caminho para casa. Pois bem, desde que mudei para cá, adivinha quantas graçinhas eu já ouvi?

Nenhuma.

Isso mesmo. Nenhuma. Passei ao lado de uma construção, andei sozinha na rua e pasmem: vou pra academia com legging preta justa e no verão até shortinho eu usei e nada! Nenhum comentário! Não consigo nem explicar o sentimento de liberdade que é você poder escolher suas roupas sejam elas justas ou roupas de menino – sempre roubo itens do vestuário do meu marido e às vezes me visto meio Tom Boy – e nada! Nenhum comentáriozinho. Freedom!

Novamente, não posso afirmar que é assim pra todo mundo. Homem babaca existe no mundo todo e aqui não é diferente! Mas eu me arrisco a dizer que de um modo geral, a mulher Brasileira, acostumada com tanto comentário abusivo ao longo da vida, se sente muito mais confiante por aqui. O que me leva ao segundo ponto:

Segurança

Novamente, só posso falar sobre a minha experiência, mas sem dúvida nenhuma, me sinto muito mais segura aqui do que no Rio. E eu não estou falando só sobre andar com celular na mão. Mas sim da segurança como mulher de poder ir e vir na cidade. Pego ônibus/trem/metrô cedo ou tarde da noite e nunca me senti em perigo como me sentia quando voltava de um bar com as amigas seja em Ipanema, Tijuca ou em São Gonçalo. Obviamente,  não é pra marcar bobeira em uma rua deserta num dia de domingo e esperar que seu anjo da guarda tome conta de você, mas é maravilhoso não ter que pegar um táxi ainda que eu esteja dura de grana porque você sabe que o preço de pegar um 434 tarde da noite pode ser muito caro. Aqui eu pego Uber sim, mas pego porque eu não quero trocar de estação e esperar um ônibus num frio de lascar às 3am.

Não vou entrar na questão sobre segurança ter muito a ver com desigualdade social e o fato de que aqui você lava o seu próprio banheiro se quiser ele limpinho porque o post não é sobre isso. Talvez em algum outro momento eu escreva sobre, mas sugiro este post para refletir um pouco sobre a questão.

O homem e as tarefas domésticas

Cheguei a deletar essa parte porque pensei o quanto ela seria polêmica. Esse é sem dúvida um recorte porque eu só posso falar sobre os homens com os quais eu convivo aqui, a saber: meu marido, sogro e alguns colegas do museu. Mas fiquei com a impressão de que um outro mundo é possível e queria compartilhar com vocês. Aqui em casa, por exemplo, eu e meu marido dividimos as tarefas domésticas porque como muitos de vocês já sabem: ter uma diarista pra limpar a casa aqui custa uma grana. Eu cozinho. Ele lava. Eu lavo a roupa. Ele lava as janelas. Eu aspiro a casa. Ele vê que eu não aspirei direito e aspira de novo. Não acho que tenha a ver com o país e sim com a educação dada pelos pais e é esse ponto que eu queria tocar. Eu cresci ouvindo comentários do tipo: o homem é responsável por manter a casa  e a mulher por cuidar da mesma. E desde que vim pra cá, eu me sinto como se estivesse em um mundo novo. Vai parecer besteira para muitas amigas minhas no Brasil que são casadas com homens os quais eu conheço e sei que não são parte do estereótipo, mas acho que vocês vão concordar comigo quando eu digo que a maioria dos homens Brasileiros ainda estão lá nos anos 20 e separando mulher entre puta e aquela que é pra casar. #prontofalei.

Padrões de beleza

Aqui cheguei ao ponto que eu mais queria falar sobre: os padrões de beleza. Infelizmente, como em qualquer outro lugar do mundo, as mulheres que eu conheci aqui, sejam elas Britânicas ou não, estão sempre na luta contra o peso. Ainda que elas jurem que não estão nem aí pra isso, a pressão da sociedade pra você caber em um jeans pequeno é real. É só ver o quanto o The Bodycoach e a Kayla Itsines vendem por aqui pra perceber. A gente bem que tenta se amar do jeito que é. Quando eu engordei no início do ano passado, eu bem que tentei me aceitar do jeito que era. Mas bastou o comentário das pessoas, na maioria das vezes das próprias mulheres sobre eu parecer mais cheinha que eu corri pra academia! Infelizmente, ainda não conheci um país onde a mulher não seja julgada pelo seu peso se é que esse lugar existe.

Enfim, acredito que muitos irão me dizer que não é bem assim e eles também podem estar certos, porque como eu disse, eu só posso escrever sobre o que vivi em 1 ano e 4 meses morando em Londres. Mas essa é a impressão que eu tive sobre ser mulher aqui até agora. Fiquem à vontade para discordar e debater!